Cuidado - Labirinto lírico de uma existencialista:

Dentre um eu coagulado,

vejo a síntese de legiões

mitológicas narradas pela

ótica da melancolia.

Elas se movem em uma

ampla dissolução.

E se perdem nas

bifurcações do tempo.

Vastos são os corredores

tortuosos da memória.

Pois, eis que encontro o elo

entre tudo o que um dia fui e sou.

São mitologias sobrepostas

nos ramos de uma ilusão

seguida por outra.

São os personagens oriundos

de uma natureza não tão una quanto aparenta.

E pergunto-te para que serve a vida, se não para dar voltas em corredores obscurecidos pela eterna busca de um eu absoluto e imperturbável.

Um eu envolto por todas as paredes intransponíveis do passado.

Dentre os canteiros de cada verso,

fito os rostos que outrora tive.

Quão taciturnos, eles olham-me de esguelha, e desconfiam dessa minha madureza.

No primeiro corredor vejo um amor que já se foi; pobre miserável, diluído em expectativas murchas, mas Drummond me diz que o coração contínua, então sigo amando, como a literatura me ensinou.

O segundo corredor veio-me por engano, pois já procurava a saída para esse emaranhado mental.

Mas, eis que encontro a laboriosa

agonia de minhas inúmeras crises

existenciais.

Ó formas estranhas e preciosas; vós que cruzais as pontes desta minha busca interminável, peço para que mostrem-me a saída.

Meus conflitos, no entanto, levam-me ao terceiro corredor, e já densificada pela desilusão; encontro o conhecimento: a doce maldição das almas solitárias.

Ele abraça a desilusão e segue em seu desencanto em busca de caminhos ainda mais extensos.

A idealização passou por mim e seguiu em frente.

Caminhei por sobre o escuro

Enxergando apenas a plenitude soturna do nada absoluto.

Mas espere! Encontrei mais um caminho clarificado.

De nada serviu, pois a retina no fundo é escura quando se funde aos pensamentos.

Em vão, pisei nos olhos de um Minotauro niilista, e cheguei ao fim do nada absoluto.

A criatura é híbrida e insiste em satirizar minhas buscas por unidade.

- O eu é mutuamente confuso e mutuamente facetado, aceite tuas mitologias fragmentadas.

Grita o filho das entranhas labirínticas da solidão.

Mas vos digo que essa interposição de caminhos, serviu-me para algo substancial: a busca por existir.

Ora, não achei o fim, pois ele sou eu.

Primeiro existo, depois me faço no labirinto da vida.

Letícia Sales
Enviado por Letícia Sales em 21/11/2020
Reeditado em 24/02/2022
Código do texto: T7117156
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