Flores de plástico
Eu tinha um sonho de criança
De possuir um grande jardim
Até que um dia me disseram
Que a vida o traria de presente pra mim
Ele já viria completo
Com folhas de todas as cores
Já plantadas e adubadas
Decorado com muitas flores
E era verdade o que me contaram
A certa altura da vida eu ganhei um jardim
Com um brilho nos olhos eu o abracei
Tinha rosas, orquídeas, lirios, jasmim
Eu o reguei e cultivei
Por anos e anos lhe dediquei meu amor
Mas estranhamente eu comecei a perceber
Que nada do que fiz mudou a sua cor
Flores não murcharam, não caíram nem nasceram
O jardim era bem lindo, mas de mim não precisava
As folhas que eram verdes, verdes permaneceram
Ele por si existia, cuidados não demandava
Foi então que vim a descobrir
Que dediquei minha vida em vão
A regar flores de plástico
Todas cravadas no chão
É por isso que eu não entendia
Que mesmo diante de tanta dedicação
Nada mudava, não crescia nem morria
Apenas empoieiravam-se sem qualquer emoção
Eu reguei flores de plástico pela vida
Dediquei a elas, tempo, cuidado e amor
E elas, frias como a tinta que as cobria
Me devolveram indiferença e dissabor
Mas com elas aprendi algo grande
Sobre jardins e sobre a vida também
Se queres uma vista bela
Não espere receber de ninguém
O jardim mais belo que hoje possuo
Foi plantado e regado com minhas mãos
Não é grande ainda como sonhei um dia
Mas vem do plantio de muitos grãos.
Meu jardim agradece o meu cuidado
Cresce e floresce com o meu amor
Se descuido ele murcha e me cobra
Me mantém viva, enquanto vivo ele for!
[Cultivo um jardim e cultivo um amor]