Versos na cova da lareira
LXIX
Num tempo que não vem senão frio
atiremos versos para a cova da lareira
a rima concede quentes afectos
quando bater o rigor do inverno.
( um verso de paixão )
Grave e seco
contrário
como água, como pele
em cima da carne e do osso
que te arde, que te fira e te mova,
que te eleve até aos pícaros da humanidade.
( um verso amargo )
Contando histórias de casas saqueadas
mulheres violadas
uma massa vermelha de sangue,
maré que flui
enchente ou vazante
espesso liquido no seu curso visivel.
( um verso ineputável )
Do sábio perdido na ciÊncia do amor
deixado á sorte
ás leis do universo
no estreito corredor da vida
estando só
vendo/imaginando um sorriso anónimo
Deus ou um anjo simétrico.
( um verso melancolico )
Na base da estátua fria
no meio da praça
despida de afectos
livre mas não querendo nada,
homenagem ao homem,
recordação de um tempo
onde amor não era palavra
não tinha sido inventada.
( um verso saudosista )
Que jaz em ti
como tudo o que conheço
germinando o que mereço
e a lembrança de um beijo
arde doce como febre
coisa que o homem alcança na vida
e se desvanece em fumo branco
nas conjunturas do globo,
separando o bico da chama
com o machado anti-natura.
Um verso de paixão,
um verso amargo,
um verso eneputavel,
um verso melancolico,
um vrso saudosista,
apenas versos...
Tudo isto é fado
que bebemos das fontes
que traduz o sentimento
nos limita ao minimo que somos.
Tudo isto é lenha na lareira
combustão incandescente,
um cérebro quente a recitar
num inverno que não dá sinais de abrandar...
miguel lopes