Sabiá

Em frente a minha janela

Tem uma palmeira

Que à tarde fagueira

Desata a balançar

Como a provocar

festeira

Os sonhos do meu sabiá.

Canta triste,

Meu bichinho!

Esqueceu como voar.

E aquela palmeira

Exibida,

Insiste em se mostrar.

Do lado

Existe um ipê

Vermelho, apaixonante

Nele dorme um pardal

Que nem sei se

É cantante.

Mas que me olha sempre

Com um olhar

Penetrante.

Está zangado passarinho?

Porque guardo em meu ninho

Um pequeno sabiá?

Não esperava resposta...

Mas ele se pôs a falar.

Não me zango moça tola!

Eis que vivo aqui e penso

Sabiá perdeu o jeito

E esqueceu como voar.

Queria ver se foste tu

Que de tanto viver presa

Tão pequena e indefesa

Esquecesse como andar.

Eu de cá emudeci.

Correu um frio pela alma

E meu coração num espamo solto

Concluiu assim:

Sabiá, sabiá.

Ousei te roubar, enfim.

Mas por não saberes mais voar

Roubastes um pouco de mim.

(Jessiely)