[ sem título #36 ]

falarias [unicamente] de amor a ti,

mas a pátria verde e amarela

continua desigual;

e o frio da cidade

onde vivo

e vejo

o tempo passar

nas faces

de meus semelhantes,

tem se iniciado

fortemente

durante a noite,

e se estendido

pela madrugada.

é certo

que não estamos acostumados

ao frio.

é certo

que demoramos a nos aquecer.

é certo

que o sono

tem seu tempo de chegada;

e que por isso,

fechamos os olhos

e pensamos

em qualquer coisa

e fantasiamos

qualquer coisa

e aguardamos

por alguma esperança,

porque é escuro

até a vinda do sono.

e pouco

— ou nada —

importa memorizar o tamanho da cama,

do cômodo,

da casa,

ou dos objetos

deixados na sala;

pois a noite [fria]

anula os tamanhos, os espaços;

pois a noite [fria]

fabrica seu próprio universo;

e que por isso,

fecho os olhos

e espero e espero e espero

pelo sono.

mas a mente ativa

quer refletir,

quer debater,

sobre o amor,

sobre as notícias

e sobre os pessoais objetivos

que cultivo.

*

e assim,

vou me estendendo

pelas horas

da madrugada.