Dama de fogo
"Tem algo queimando dentro dela e o cheiro de crematório identifica que até mesmo os que morrem em suas entranhas, exalam um estranho odor vívido; como a última e mais genuína súplica de alguém que se encaminha para a morte enquanto fenece no momento mais intenso de sua vida. - Assim são as coisas que morrem dentro dela."
No lânguido calor celeste, a realidade em ti se desfaz e os corpos se reduzem a cinzas, amistosos e nus, transformam-se em nada.
Os teus olhos, pele e ossos
guardam espetáculos, pois tudo o que morre rápido dentro de você, é capaz de atravessar eternidades.
Doravante, da chama rubra em teu seio, coagula-se uma fênix feita de sangue e ela ressurge das cinzas ao bombear os resíduos da morte de volta à vida.
Assim, as cinzas do teu coração retornam para as estrelas e constituem constelações inteiras.
Algo queima no fundo de ti,
despertando o brilho mórbido da intensidade; ofuscando o seio inerte da existência.
Anseio desmanchar dentro de você,
leve-me ao pó e consagre-me aos astros; consuma o combustível da minha pulsação, até que ela se esgote e desvaneça nas hastes do pecado.
Deixe o meu esqueleto nu e derreta a minha pele até que eu possa retornar às estrelas, reduzida a pureza primordial no forno do fim.
Peço-te, que assim que terminar de me queimar, despeje as minhas cinzas nos recantos planetários.
Quando olhar para a morte de uma estrela, sentirás o meu coração que estará pulsando junto ao todo do universo, puro e exposto ao nada; assim terás lembranças minhas que ecoarão pela eternidade.
- Letícia Sales
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