GENIALIDADE
Jamais me julguei um gênio.
Sempre soube que nunca fui
Ou serei um gênio.
Jamais tive sequer o sonho
Ou a pretensão de vir a ser um gênio,
Como jamais me julguei
Sequer perto da genialidade.
Não sou um gênio.
Eu sei que não sou um gênio.
Eu já disse que sei
E sempre soube
Que jamais fui ou serei um gênio
E estou farto de ouvir pessoas
Que não me conhecem
Dizendo que me julgo um gênio!
Não me conto e jamais me contei
No número daqueles
Que, no dizer de Álvaro de Campos,
Se concebem em sonho gênios como ele
E dos quais a História não marcará,
Quem sabe?, nem um só.
Aliás, não quero que a História me marque.
Não quero que a História guarde o meu nome.
Não desejo viver na História.
O que quero, como Mário de Andrade,
É ser esquecido como um nome de rua qualquer.
Não, não me suponho gênio.
Creio em minha genialidade
Tanto quanto creio em minha normalidade
Ou na possibilidade
De tornar-me quem deveria ter sido
E de encontrar as ilhas afortunadas
Do que deveria ter sido.
Há no Mundo tantos parvos
Que se julgam gênios!
E eu, que nunca me julguei gênio,
Serei por isso mais parvo
Ou menos parvo?
Lá fora, na avenida,
O inverno reina soberano.
As hortênsias secaram
E as últimas folhas douradas
Dos plátanos caíram.
Talvez mais tarde a fria geada caia
Sobre a Encantada Montanha do meu doce exílio
E os verdes campos dos Campos do Jordão
Fiquem brancos como nas manhãs
Da minha querida infância perdida,
Da leda primavera da minha vida,
Em que vicejavam as flores das grandes expectativas
Que nunca se cumpriram
E jamais se cumprirão.
Tenho fingido ser muitas coisas,
Mas jamais fingi ser um gênio.
Tive muitos sonhos,
Mas nenhum deles foi o de ser gênio.
Já disse e, se preciso, repetirei mil vezes
Que não sou um gênio,
Que nunca fui um gênio
E que jamais serei um gênio,
Como já disse que estou farto
De ouvir pessoas que não me conhecem
Dizendo que me julgo um gênio,
Acusando-me de ousar me supor um gênio!
Não sei o que sou,
Mas que não sou gênio
E tenho sonhado com muitos bens inalcançáveis,
Mas a genialidade não está entre eles,
Mas nenhum deles é a genialidade.
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Campos do Jordão, 20 de julho de 2017.