A pele preta

A pele preta não tem paz

Essa que outrora era repouso do açoite

Desenhada em vermelho sangue dia e noite

Pelo nefasto ódio costumaz.

A pele preta não tem um dia de paz sequer

Ela brilha no sol que racha

Ela engrossa no arado, na graxa

A pele preta morre todo dia pra poder viver.

Quantas peles pretas ainda hei de ver morrer?

Na maca, na rua, na praia, na viela,

No beco soturno da periferia e da favela,

Achado pela bala branca do poder?

É fácil adular o fascismo quando não lhe bate à porta

Quando não se vê o corpo nu desenhado pela dor

Quando quem está debaixo da lona para ti é inferior

Quando a história da sujeição não lhe importa.

A pele preta não tem paz

A pele preta não tem um dia de paz.

A pele preta importa e não se apagará jamais.