A Busca
Me busco de um jeito
E as vezes até me acho
Sentada em rua erma
Ou na porta sob o capacho
Tenho medo de avião
Tenho medo de estrada
Só viajo em pensamentos
Corro poucos riscos na cama deitada
E por falar em medos
Permita-me me apresentar
Se já me conheceu um dia
Re-conhecer vai precisar
Já fui uma menina de sonhos
Enfrentei o mundo com a minha coragem
Pouca coisa disso tudo me restou
No caminhão de mudança perdi essa bagagem
A menina hoje com rugas e fios brancos
Coleciona alguns medos em seu coração
Mas há quem diga que seus olhos ainda brilham
Ainda existe faísca pra aquecer seu coração
E nessa longa busca por mim
Quando me acho ainda não me tenho
Pois o que em mim hoje encontro
Amanhã já não sei se mantenho
E assim vou flertando com a maturidade
Dos meus trinta e tantos anos
Vivendo um dia por dia
Sem arquitetar grandes planos
Eu me busco todos os dias
E não vou ser injusta a ponto de dizer que não
Eu me encontro sim, todas as vezes
Mas é que as vezes me desagrada alguma versão
Eu viro as esquinas da vida
Como um carro em alta velocidade
Pode ser que encontre a estrada livre
Ou tenha que desviar de alguma adversidade
A vida é cheia de curvas
Como uma longa viagem pro litoral
A gente só enfrenta ela mesmo
Porque quer a recompensa no final
E é assim que tenho vivido meus dias
Viro curvas, dobro a esquina
E a cada nova rua que surge
Tento não perder meu brilho de menina
Me busco, me perco e me acho
Sozinha andando de pé no chão
Me acolho com cuidado num abraço
Pra não afugentar minha frágil emoção.