VII anos no umbral

O jovem Godé, de quem lembro com clareza insuperável, deu por si neste mundo por volta de um ano e cinco meses... Ele não se espantou, apenas percebeu com clareza jamais ultrapassadas em todos os anos intensos de toda sua vida...

Percebeu que a casa era de taipa, coberta com telhas, de chão natural, um aroma maravilhoso que só existe no mato de Naru, no município de Barra do Corda, Maranhão... Ele não sabia ainda, mas passaria décadas sem sentir o cheiro da vida novamente...

Apresentou desde cedo um carinho profundo pela mãe, desde sua primeira lembrança dela, em certa vez que a vi entrar, vinha da roça. Era ela que derrubava, que queimava, que coivarava, que dançava os tocos, trabalhava a terra, plantava, roçava as ervas daninhas sempre amendkaçadoras de abafar a plantação, era ela que colhia, que punha pra secar e batia, pulava no pilão e cozinhava o arroz que eu comia...

Mas depois passou a ser os três, Godê, Claudicante, e todas as dificuldades do mundo vindo tudo de uma vez, parecia ser permanente...

Teve a questão dele não ter pai, o pobrezinho morreu aos trinta e cinco anos, já morando em Imperatriz... Dirigia um caminhão, que num ladeira, quebrou o eixo central, elidindo dele o controle do carro, na anciã pela vida pulou tentando se salvar, mas quebrou o pescoço e assim o Godé jamais conviveu ou olhou seu pai para ter no coração um imagem sua, mas não, não tem, seu coração tem milhares de milhares de faces penumbrosas da mesma imaginação, uma busca pelo rosto do pai, que não sabe se viu ou se apenas sonhou que viu solitária dependurada parede de entrada da casa de seu avô, pai de pai, que conheceu apenas aos 12 anos de idade...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 27/01/2023
Reeditado em 27/01/2023
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