"Atire a primeira pedra".
Há de se rebuscar as órbitas passadas,
A dor lancinante de quem sofre e clama,
A ausência do amor e deita-se no colchão de lama,
Para aguardar o perdão na alma encrustada.
Você condena, mas, o qua faria a frágil Magdalena?
Aliciada ao ouro, aos olhos cúpidos, nesse estágio,
Que diante do coração duro é uma menina frágil,
Recusada, expulsa de casa, sobrevive ao montar a cena.
A família distante, o que fazer diante da fome, da vertigem?
Senão prostituir-se e entregar a outrem o sangue virgem,
E tu condenas como se fosses, dos santos, o decano.
Tens o direito de te arvorar em lentos passos de alpargata,
E criticar, de Magdalena, o tão fugaz cio de gata,
No dia-a-dia do seu cotidiano.
II
Nem te perguntas... - se Deus condenaria essa andorinha,
Que poderia ser bailarina, advogada, médica ou atriz,
Que, no entanto, se vai tornar a reles meretriz,
A bandonada, usada, no vilipêndio de estar sozinha.
Sorte a tua que és modelo de luz cálida e carburante,
Que não te furtas em denegrí-la na imagem, ofendê-la,
E ignorar que a adversidade assim obriga a sê-la,
Não pela volúpia, mas pela necessidade de ter amante.
Enganas-te; eu não defendo a prostituta, é verdade,
Porém, não a condeno por seus desejos e necessidades,
Ainda que eu seja deus com Deus.
À pecadora pública, à prostituta efêmera ou perene,
Não imputarei a pena com os acordes de sirene,
Mas tu, insensato; atire-lhe a primeira pedra.