"Atire a primeira pedra".

Há de se rebuscar as órbitas passadas,

A dor lancinante de quem sofre e clama,

A ausência do amor e deita-se no colchão de lama,

Para aguardar o perdão na alma encrustada.

Você condena, mas, o qua faria a frágil Magdalena?

Aliciada ao ouro, aos olhos cúpidos, nesse estágio,

Que diante do coração duro é uma menina frágil,

Recusada, expulsa de casa, sobrevive ao montar a cena.

A família distante, o que fazer diante da fome, da vertigem?

Senão prostituir-se e entregar a outrem o sangue virgem,

E tu condenas como se fosses, dos santos, o decano.

Tens o direito de te arvorar em lentos passos de alpargata,

E criticar, de Magdalena, o tão fugaz cio de gata,

No dia-a-dia do seu cotidiano.

II

Nem te perguntas... - se Deus condenaria essa andorinha,

Que poderia ser bailarina, advogada, médica ou atriz,

Que, no entanto, se vai tornar a reles meretriz,

A bandonada, usada, no vilipêndio de estar sozinha.

Sorte a tua que és modelo de luz cálida e carburante,

Que não te furtas em denegrí-la na imagem, ofendê-la,

E ignorar que a adversidade assim obriga a sê-la,

Não pela volúpia, mas pela necessidade de ter amante.

Enganas-te; eu não defendo a prostituta, é verdade,

Porém, não a condeno por seus desejos e necessidades,

Ainda que eu seja deus com Deus.

À pecadora pública, à prostituta efêmera ou perene,

Não imputarei a pena com os acordes de sirene,

Mas tu, insensato; atire-lhe a primeira pedra.

YOSEPH YOMSHYSHY
Enviado por YOSEPH YOMSHYSHY em 16/12/2007
Código do texto: T780563
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