IDEALIDADES

Estou a mil degraus do impossível.

Eu nem comecei a subir as escadarias

Espirais da minha estupidez!

Nem ascender às alturas da minha religião

Cindida.

Nos cumes dos quais a luz do sol emana

E ilumina o meu rosto pálido e infantil.

Estando sem forças para levantar do chão..

Me sinto tão feio, totalmente incapaz

De qualquer beleza.

Um ser eternamente na bagunça, numa

Confusão insolúvel, que me atravessa

E me ultrapassa.

Com o coração contristado por saber que existe

Pureza, em algum lugar do mundo.

A felicidade em raros momentos de movimento,

Milagrosa e matemática.

Fazer música, e ir embora na música.

Ensaiando de novo e de novo, o conflito

E a conquista.

O instante da quebra e a resolução,

E o instante de ir embora.

Sonho: ser outra coisa, se liberta disso que se é.

Inevitavelmente repetidas vezes dentro da

Caixa da humanidade que sou.

Aquela que me causa sofrimento por eu saber

Que me causa sofrimento

E não saber como abandonar

A mim mesmo.

Em comunicação com vozes dentro e fora

De mim, doces ou suaves ou duras.

Como vento na paisagem do lado de lá

Das montanhas.

Sento comigo mesmo e estou em silêncio.

Sou o Sérgio mais duro e rígido e tacanho.

E, na verdade, eu sou, e sempre fui, a barreira

Mais intransponível e sólida.

A travessia sobre um rio, enigmático e destinado.

Quase como se minha "outra" consciência

Estivesse escondendo algo de mim

Ou não quisesse amizade.

Então o meu silêncio me causa sofrimento.

A solidão cria vozes e medo na sala.

As aves sobrevoam acima da cabeça.

O homem lindo grita rouca sobre o concreto.

A rua está cheia de uma presença móvel

Que se movimenta em outra velocidade

Que a dos carros.

As linhas lambem minha língua, mas minha língua

Está seca.

A poesia não é uma engenhoca argumentativa,

Mas pode ser uma amálgama de vários bichos e máquinas e objetos artísticos.

Como um colar a pender você-eu-você-eu-você

-Eu-você...

Que estão intrinsecamente intrincados,

Conjecturados e correlacionados consciente

Ou inconscientemente

Naquilo que chamo meu, minha, vida.

Através do qual mimetizo o ambiente

Igual um camaleão abstracionista.

O meu dilema reside no meu silêncio

E na sua voz.

Porque o meu silêncio é para a sua voz,

E a sua voz é para o meu silêncio.

Como as coisas estão implicadas juntas,

Toda a poesia é o exercício da dor:

De colocá-la para fora, de se aproximar

Um pouco mais dela, e dar-lhe um valor,

Um resultado que a satisfaça.

Porque preciso trabalhar meu silêncio

Para trabalhar sua voz.

E preciso trabalhar sua voz para trabalhar

Meu silêncio,

Como dia e noite.

E me aproximar mais de mim, nesse poema

Infinito.

Eli Jardel Alexandre
Enviado por Eli Jardel Alexandre em 01/02/2024
Reeditado em 01/02/2024
Código do texto: T7990080
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