Imanência do ser
Canso de ser o que sou,
Das memórias, das palavras e do agir.
Cansaço de quem muito buscou.
Tudo me cansou, tudo foi mero devir.
Canso de ser o que não sou,
Dos desejos, das metas e do por vir,
Cansaço de quem nunca o buscou.
Tudo me cansou, tudo quê não vivi.
Onde a calmaria me espera,
Se não está em todos os lugares?
Num quarto mofado? Numa enevoada aurora?
Num sorriso amarelo? No mais sujo dos mares?
Onde a inquietude me espera,
Se pode estar em todos os lugares?
Nas bocas falaciosas e quietas que à guerra gera?
No turbulento barulho do grilar em frios luares?
A parte isso, tenho em mim um pouco dos dois,
Do que sou e não sou,
Do quê fui antes e pouco do quê serei depois.