⁠Gonçalo Salgueiro por Ricardo Maria Louro

Quando tu nasceste

no céu da tua noite

cintilaram as estrelas mais doces

ouviram-se as melodias mais ternas.

Fixaram-te os horizontes fugidios

dançaram os poentes sobre o mar

e até a Lua, envergonhada,

se ocultou do firmamento!

O vento, ora vento brando, ora vento Norte

cantou ao menino d'oiro ...

És tu o vento! Um sopro de saudade...

E há quimeras, há silêncio - pausa e silêncio,

obtusas lágrimas por chorar, carentes em galgar-te a face!

Porque as seguras?! Porque as susténs?!

Porque as não derramas se quando caem

transformam-te o canto, moldam-te os versos,

abrem-te a Alma ...

Deixa que docemente te humedeçam a face

e te possuam o timbre da voz.

Por ti! Por mim! Por todos nós!

E depois ... depois sorri ... sorri chorando

nas margens de um rio junto ao tronco

de um Salgueiro, aí, onde morrem e renascem

as lendas dos amores ...

... eternas, sagradas, intemporais.

Tu estás vivo, tu és vida!

"Deixa que os mortos sepultem os seus mortos ..." e segue, veste a roupagem das andorinhas

e canta, canta, porque dás mais vida à vida

com teu canto e tudo renasce,

tudo é novo, de novo!

Não os oiças! "Eles" não sabem o que dizem!

Avança no trilho do coração ...

E um dia ... um dia tudo será como antigamente

porque voltarás aos braços quentes da tua Mãe ... para sempre!

*Para o cantor, fadista e autor Gonçalo Salgueiro.