Longe da razão (breve confissão)

(hoje frente esses medos e desejos é tão fácil lutar por aquilo que eu acho ser real, e o corpo prova não sermos a totalidade do ser. É como a boa nova nos dias de desolação, é como a entrega nos dias das primeiras perdas. Ser é como estar ou fingir, ser aquilo que se busca ou mesmo o que odeia. É como não ter pra onde correr e se ver escravo de um mal antigo, um mal que sepulta seus mais intimos conflitos em nome de algo que, em memoráveis horas de consciência, nos faz sentir livres pra tentar novamente)

e como vem, assim se vai

às vezes eu tento entender

como tudo é tão normal

como pétalas do inverno

e saudade nos campos dos sonhos

às vezes aqui, é o melhor lugar

e como vibra o mundo perdido

criança do vento, filho da memória

nem sempre o amor é relativo

como se dar por olhos vendados

trocar o doce sol pela chuva da incerteza

frente ao lago o reflexo da dúvida

quem chora nem sempre tem medo

e todas as lágrimas sobrevivem no passado

esconder a fraqueza só nos torna vulneráveis

e, longe de nós mesmos, podemos não resistir

cortinas da vida, aves sem rumo

como nos dias das primeiras perdas

perder é aprender a dar valor?

como gritos de guerra são esses versos

silêncio quebrado, amor jurado

e angústia alimentada pela solidão condicional

quem sonha nem sempre tem caminho

e buscar a saída é como lutar sem armas

as lágrimas pesam como pedras

pois brotam de olhos cansados de ver a dor

tantos medos pra se vencer

parece que o sol não ilumina minha alma

não sei como proseguir

posso sentir que no vazio o sonho deságua

posso tentar ser forte

e enganar a mim mesmo

já não tenho forças pra acreditar

que as palavras ganham vida

e corrigem meus erros

aqui, talvez, nada mais vale a dor

eu fico andando em círculos do amor

há tanta coisa pra se viver

mas sempre acreditei poder voar até você

e dizer como eu sinto

por ter vivido uma vida de fugas

poderia ser um homem melhor

se tivesse lutado por meus ideais

frente à cova de minha alma

chorei como nos dias da infância

posso tentar ser forte

mas essa fraqueza vive nas lambranças

longe... longe daqui

perto, talvez, do fim...

eu possa te encontrar...

(eu estou aqui te chamando

mas são muros tão altos

e minha voz vai ecoando

e deixando em cada passo um traço

eu estou aqui a cada dia me vencendo

e, talvez, suprindo minha dor

porque nem mesmo o amor

me foi tão fiel)