SALGANDO O SAGRADO

Enterrei a semente

E reguei

Com o meu suor...

Salgado.

Naquela obra eu me dediquei,

Todos os dias, sem descanso...

Esperei pela surpresa, a magia.

Sobre o solo amado, eu orava e ria.

Oração que o padre não ensina,

Pois confesso que nunca fui à missa,

Mas que é pura e faz sempre presente,

No coração, no corpo, no ventre.

Sim! Sim! Sim!!!

Até que da terra brotou a vida!

E novamente eu orei,

Mas desta vez, também chorei. Chorão!

Meu nome é Sebastião. Tião.

Vi de a planta crescer a árvore

E me alimentei dos seus frutos.

Dormi sob a sombra dela,

Mas fiz tão pouco por ela...

Apenas um milagre,

De quem orou, riu e chorou,

Com a minha mão sagrada!

E agora tanto ela me dava...

Que a ela chamei de Bendita

E os outros também a chamaram de Dita...

A Dita do Tião. Linda alusão...

Talvez não passasse de encenação!

Pois no dia que o Mal chegou,

Todos, a ele apoiaram...

Cheio de razões, dono da verdade... E da mentira...

Só a minha razão é que não compreendia!

Ele ludibriou aos outros,

Mas não a mim!

Prometeu prosperidade para aquele canto...

Amargo engano!

Com o machado e a serra,

Quis tombar a minha Dita!

Tentei impedir, mas foi em vão...

Vi a minha amiga caída no chão

Não! Não! Não!!!

E minhas mãos sagradas

Envoltas ao pescoço do Mal...

Eu apertei... Tormento!

E nem respirei... Não houve tempo!

Compreendi pela face do Mal,

Que ali não havia mais vida. Maldita!

Pensei em orar novamente...

Mas faltaram as palavras na mente.

Enterrei o corpo

E reguei

Com as minhas lágrimas...

Salgadas.