PENSO, LOGO NÃO EXISTO

Como é possível, só pelo pensamento

Fazer tão longas viagens

Pelos confins do Universo

Se eu sou menor que a cama em que me deito?

Tão insignificante devo ser

“Penso, logo existo” – disse Descartes

Mas dizer que algo existe é afirmar

Que se está satisfeito com as perguntas que fez (ou não fez)

Não indicando nada a respeito do algo

Apenas de quem o disse

Então como vou saber se eu existo?

O quanto sei de mim mesmo?

Faço-me perguntas, porém

Não há ninguém para responder

(Vejo o mundo, mas não sei se ele me vê.)

Da pouca emoção que rege meu ser

Entendo que, se algo existe, não é necessário perguntar

Porque existir é, afinal, algo óbvio

Quando me sinto impelido a perguntar

“Deus existe? Eu existo?”

Toda minha existência se perde

Antes do ponto de interrogação

Porque pensar é um caos

É desfazer as conclusões e os conceitos

Quando penso não concluo nada

Pensar é demais para mim...

(Eu penso e odeio isso)

Tão bom é viver sem pensar

Viver sentindo

Como diz Fernando Pessoa

“Sentir é estar distraído”

E a vida é para ser uma distração!

Se penso ao invés de sentir

Não estou vivendo

Não estou existindo

Estou perdendo tempo...

Para que eu penso, então?

Motivo não há, na verdade

Há apenas esta conseqüência fundamental:

Penso, logo não existo.

Sei disso e sou infeliz...

Cláudio Theron
Enviado por Cláudio Theron em 23/02/2008
Código do texto: T871864
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