PENSO, LOGO NÃO EXISTO
Como é possível, só pelo pensamento
Fazer tão longas viagens
Pelos confins do Universo
Se eu sou menor que a cama em que me deito?
Tão insignificante devo ser
“Penso, logo existo” – disse Descartes
Mas dizer que algo existe é afirmar
Que se está satisfeito com as perguntas que fez (ou não fez)
Não indicando nada a respeito do algo
Apenas de quem o disse
Então como vou saber se eu existo?
O quanto sei de mim mesmo?
Faço-me perguntas, porém
Não há ninguém para responder
(Vejo o mundo, mas não sei se ele me vê.)
Da pouca emoção que rege meu ser
Entendo que, se algo existe, não é necessário perguntar
Porque existir é, afinal, algo óbvio
Quando me sinto impelido a perguntar
“Deus existe? Eu existo?”
Toda minha existência se perde
Antes do ponto de interrogação
Porque pensar é um caos
É desfazer as conclusões e os conceitos
Quando penso não concluo nada
Pensar é demais para mim...
(Eu penso e odeio isso)
Tão bom é viver sem pensar
Viver sentindo
Como diz Fernando Pessoa
“Sentir é estar distraído”
E a vida é para ser uma distração!
Se penso ao invés de sentir
Não estou vivendo
Não estou existindo
Estou perdendo tempo...
Para que eu penso, então?
Motivo não há, na verdade
Há apenas esta conseqüência fundamental:
Penso, logo não existo.
Sei disso e sou infeliz...