OCIOSO

E se julgo ainda minhas obras,

Se dou de minhas horas para dizê-las

Mesmo que somente para o travesseiro

Ora más, ora boas

É porque seu fim

de pronto vejo.

Porque há finitude no que sinto.

É finito o que escrevo.

É mortal.

Triste é saber dar lápide pronta

Ao que com esmero lapido.

Triste é perceber o baixo eco

Dos meus tão altos ruídos.

E nada, nada é neste instante,

Pior que isto.

Pior que os números

limitando as páginas de minhas emoções,

Uma vaidade medida por quantidade

E a própria frieza

Para sentir-se realeza

Capaz de condenar minhas canções.

Há finitude demais

em quem tem tempo

para tanto julgamento.

Há limite . E não os quero

Não os busco, não ostento!

Há palavras de sobra na verdade

Suficientes para mil inventos.

E números? Há poucos

Capazes de ordenar o presente lamento.