Baía da Traição

a baía

amanha a praia

com um gesto

de navalha

cospe a areia

já prestante à luta

como se fora garça paciência

da desculpa

finge-se mar

de vasta cabeleira

renhidos os ombros das ondas

pela tarde inteira

a baía

bebe o chão

como um bilhete compassado

de rebelião

e mansa

arranha o vão

que mais se presta a incalculável

que a qualquer fração

a baía

é quase um leão

que tecesse na juba

as tranças da solidão.