Canto último (Rondó)

Faz-te Aurora, sem marcas, sem carmim.
Querubim dissoluto, fui-te chaga.
Pois descarta-me, ora não te presto,
feito sestro, sou vício. Não soçobra.

Alça a dobra no tempo, vai: põe fim.
Segue rente e somente pela estrada.
A saudade da carne à culpa é paga,
justa paga. Remida estás, já sim!

Vê! O novo já se desponta, certo.
Vai-te, arvora: podada a ti reflora.
Renascida, descuida velho resto.
Sem pregresso, adianta, sê senhora.

Faz-te Aurora, sem marcas, sem carmim.
Querubim dissoluto, fui-te chaga.
Pois descarta-me, ora não te presto,
feito sestro, sou vício. Não soçobra.

Vou agora também: assim, assim.
Sem a dor remordida (bem me valha!),
sei, Jesus desvalida a vate-falha,
se ao jogral já lhe pesa o mais ruim:

por partida do amor, feitar funesto,
amargado de dor, maçar sua obra.
Mas ainda me pulsa veio destro,
nestas veias, um fio-verso sobra.

Faz-te Aurora, sem marcas, sem carmim.
Querubim dissoluto, fui-te chaga.
Pois descarta-me, ora não te presto,
feito sestro, sou vício. Não soçobra.