Carta (Ou Oração) Para a Calma

Entre idas e vidas

Da vida que sempre neguei ter

Recomponho o meu ser

Após cada indecisão

Como um passo em falso

Tropeço, salto, declive

O sufoco da queda livre

Encontra o fim no chão

Entre anjos e demônios

Habitantes do meu templo

Refaço, ganhando tempo

Buscando o que satisfaz

Entre perdas e derrotas

Discurso vira chacota

Recalculando minha rota

À procura da minha paz

O erro de nunca estar certo

O peso de nunca ser leve

Abrindo mão do que se quer

Para fazer o que se deve

Tô devendo uma resposta

Ao garoto que me questiona

Ao dedo que me aponta

À voz que me afronta

Tô devendo uma melhora

À mente que nunca sossega

Aos olhos que não enxergam

Ante a densa neblina que cega

Mas juro, tento ser calmo

Juro, tento ser pleno

Rasgando minhas cordas vocais

Pro meu grito ser mais sereno

Caixeiro viajante,

Percorre estradas a esmo

Pregando a palavra a alheios

E abrindo mão de si mesmo

Lanço os meus versos à calma

Ante ao ódio que me cresce

Prostro-me, de joelhos ao chão

Para transmutá-los em prece:

Nossa Senhora dos Errantes

Rogai por nós, em eterno desterro

Soldado, guerreiro, infante

Atirando versos sobre seus erros

Dedico a ti, rara calma

Que, nesta estrada de pedras, prossiga

Para que, da conturbada minh'alma

Possa, um dia, virar amiga.

Gabriel Luiz
Enviado por Gabriel Luiz em 14/11/2020
Reeditado em 30/01/2024
Código do texto: T7111649
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