A dança do destino.

Eu que sempre dancei com a vida

Vi a musica parar

A alegria dos meus movimentos

Diminuir e sumir com pesar

Assim que parei veio a chuva

Que caia aumentando o lamentar

Da bailarina que ja não baila

Do coração que recusa o pulsar

A chuva chovia

E incessantemente

Se detia nem por um segundo

Sem nenhuma piedade, ou dó

Torturava meu subconsciente

Chovia e chovia

enchia tudo por ali

Chovia dentro do meu peito

E alagava tudo em mim

Ia água de lodo Barroso

Subindo as paredes do meu ser

Enchendo tudo com desgosto

E lembranças que não queria ter

Ia a mágoa n'água misturando

Ia o lodo e o barro do rancor

Meu coração afogando

E agora? Eu pensava

Mas fingia pra ninguém saber.

Quando pensei que a chuvarada

Diminuindo pararia

Passou meses uma garoa

atormentando-me com companhia

E vem que derrepente

Tal qual um raio ou trovão

Volta você pra revirar e

Por fim de vez a esse coração.

Cheio de tudo

Cheio de nada

Nem um guarda chuva

Ou galocha furada

Nem para oferecer-me

O abrigo da chuva

Nem pra ficar encharcado

Como a minh'alma desnuda

Apareceu fazendo a chuva piorar

Alagando tudo, e ainda pedindo

me pedindo pra te perdoar

Para a surpresa do meu coração

Do meu ser e da minha alma

A chuva parou

agora sinto plena a calma

Perdoei e fiz com coração aberto

Dando vazão pra água barrosa sair

O lodo sumir e o sol trazer de volta

O brilho do contentamento

Finalmente leve para mover

Leve para sentir

Para dançar e voltar a existir

Sigo só,

Pois perdoei o seu passado ausente

Mas nós dois sabemos

Que há tempos tu já não és presente.

Assim finalmente

dentro do peito

Carrego o sol

Que vem curar meu desalento

Apagar o desassossego

Do medo de estar só.

Me vejo inteira e feliz

A solitude enfim chega pra mim

Esbanjando graça e confiança

Hoje voltei a ser na roda do destino

Uma criança que dança.