EXISTÊNCIA
Quando a existência revelou-me ao mundo,
E tomei mesmo consciência de mim,
Percebi que havia sido expulso da eternidade,
E condenado a viver na pendular realidade
De um sonho oscilante, breve, profundo...
Átimo de angústia no tempo sem fim!
Meus olhares interiores me fizeram ver
A contradição sutil da minha sorte:
Um espírito fugindo da morte,
E um corpo querendo morrer!
Liberdade! Liberdade!
Nesta condenação de amar-te
Eternamente,
Meu espírito flutua além da linha do horizonte,
E meu corpo caminha sem saber para onde;
É verdade, a mais pura verdade,
Que um hemisfério de mim é o que escolhi
Para me definir;
O outro, tudo o que apenas imaginei
Que em mim pudesse existir;
Se prefiro a noite fria
Ao calor do dia,
Eu ainda não decidi,
Deus que o diga, não sei!
Não sei se o que vivo é dor,
Se é náusea de amor,
Ou se é arte
Simplesmente!
Nos versos que nascem da volúpia passageira,
Conquisto a liberdade na poesia, ainda que pretensa;
Que ela não tenha sempre uma existência verdadeira,
Mas, quando a tiver, que seja bela e intensa!