Macilentos urubus

Dentro do saco preto

Tem eu, não tem mim

Tem linhas laços vinhas

Um tom um som meu rim

Há um grande terreno

Cheio de dejetos de nós

Uma vala ou uma foz

Da cidade despejos

Aqueles que sobram nas bordas

Aqueles que não tem função

Um ao lado de uma lata vazia

Outro agora sendo jogado do caminhão

Tão cheia essa terra vazia

De restos e de coisas sem serventias

Do que um se desfaz

Outro a se alimentar vem atrás

Macilentos urubus

Bípedes e sapiens

Rodeiam uma pilha

De espantalhos e vontades

E se eu tirar agora de meu bolso

Uma emoção descartável?

Jogo pela janela do carro

Perto de um bueiro qualquer

Um papel

Uma embalagem

Uma vida

Um cinzeiro

O que eu jogo?

O que me joga?

Eu que me desfaço das coisas

Ou elas se desfazem de mim?

Tenho a sensação de estar amassado

Frágil, quase rasgado

Sem validade

Sem vontade

Espero que alguém me recicle

Me tome e me dê serventia

Pois temo cada vez mais

Uns pássaros que chegam absortos

Com vontade de me bicar

Querem comer meus restos

Meu tutano

Malditos corvos!

-Nunca mais!

Gritam sem parar.

Eliézer Santos
Enviado por Eliézer Santos em 28/10/2013
Código do texto: T4544969
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