GUERRA E POESIA

Tirei poesia do fragor da guerra;

Do matraquear das metralhadoras,

Onde o ódio escorre das veias,

Pelos desencantos das bocas

E o sangue dissolve o pouco

Que ainda há de espírito.

Também a vi nas máquinas

Que colhem grãos e plantam

Multidão de ser e ais,

Quando criam cordões de desempregados.

Na escola ela era menina moça;

Saltitante e feliz; Sorria,

Desfolhava o inocente mal-me-quer.

Nos gritos de assalto. Alto!

Do alto do salto das madames,

Ao tênis rasgado da menina drogada;

Ou no salto alto da magrela na passarela.

Ali também passava ela.

Nas escarpas rochosas, da serra,

onde a serpente, sem piedade,

Devora os filhotes do pássarinho,

Que, muitas vezes, ainda está

Cantando, exaltando a alvorada.

Ah, tirei também poesia do estupro

Quando a terra é currada, coitada

Pela semente do veneno humano.

Dos rios que escorrem calmos,

Sem se importar se suas águas

São condenadas ou límpidas.

Porém, de onde mais tirei poesia

Foi do sorriso de uma criança

Filha da guerra africana.

Sorria. paupérrima e inocente,

Subnutrida de sonho, de comida

E do alimento do amor da gente.

Carlinhos Matogrosso

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 09/11/2013
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