Do outro lado
Pisar no terreiro de pés descalços
Mas deixar a máscara do orgulho cobrir a face
É inútil, pois da vida aos naturais percalços
Não vence a fingida humildade indisfarce.
Ajoelhar-se e em respeito bater cabeça no congá,
Se te levanta da soberba falsas cordas,
É preparar os elos da corrente que te aprisionará
Para seres conduzidos ao umbral por maléficas hordas.
Enfeitar-se sem o propósito de cumprir missão
Somente para deleitar-se no espelho da vaidade
É entregar-se consciente à duríssima escravidão
Dos que se perdem no ego e encontram infelicidade.
Empanturrar-se de simples ou de finos pratos
Sem primeiro ofertá-los e depois dividir o alimento
É o mesmo que assinar escusos contratos
Guiando-se pela gula na direção escura do sofrimento.
Desejar e buscar sem merecer os louros da vitória
Querendo só para si os frutos da conquista
Não passa de ambição desmedida, prêmio sem glória,
Inútil, quando na passagem, fizermos a entrevista.
Praticar ações visando apenas ao próprio benefício
Torna-as inócuas, infrutíferas, espinhosos caminhos
Que levam apenas ao grande e infinito precipício
Onde cai quem busca as rosas plantando só espinhos.
Sendo assim, calcemos os pés de humildade
E retiremos do rosto a orgulhosa máscara da soberbia
Praticando despretensiosamente a crística caridade
Para, do outro lado, recepcionar-nos bondosa alegria.
Cícero – 14-11-2013