A MULHER PERFEITA
Nos momentos
em que me quedo a cismar
(“em que me ponho a pensar”,
para quem não curte
a escrita do Romantismo)
nas coisas da vida
e de além dela,
lembro de agradecer aos deuses
pela não-existência
da mulher perfeita.
Para começar,
ela só serviria para o homem perfeito,
que, felizmente,
também não existe.
E mesmo que ela,
num ato de magnanimidade
ou de loucura (?),
se dignasse a desejar
um ‘cara’ em tudo comum,
coitado dele!
No começo,
talvez fosse até interessante.
Principalmente para ele:
perfeita
(e um tanto Amélia,
visto que a “perfeição” seria idealizada
do ponto de vista masculino clichê,)
ela faria todas as vontades do amado,
e não faltaria nem adivinhar
seus desejos.
Mas, com o tempo,
as coisas ficariam
cada vez mais estranhas,
previsíveis
e insípidas,
até que se tornariam insuportáveis.
O homem esperaria sempre
o melhor dela,
e ela NUNCA o desapontaria.
Justamente nesse detalhe estaria
o começo do fim.
O amor é feito de altos e baixos,
e a gente aprende pelo método
da tentativa & erro.
A mulher perfeita não daria ao homem
nem a alegria de poder ajudá-la
quando ela precisasse
(isso nos faz sentir
que somos importantes),
nem ajudaria de maneira eficaz
nos momentos difíceis,
sem aquele ar de cobrança:
“se fosse eu, não teria errado”.
Seria uma professora ensinando,
não uma companheira compartilhando.
Mesmo na intimidade,
haveria sobre os ombros “dele”
um peso enorme a carregar.
Ela jamais falharia no prazer,
mas então ele jamais poderia,
também, falhar.
E todas as vezes que se deitassem,
ele já saberia de antemão
que seria “perfeito”.
Mas o fato é que,
sem aquelas vezes ‘mais-ou-menos’,
não saberíamos valorizar
as noites maravilhosas.
Graças aos deuses
pela inexistência da mulher perfeita!
Agradeço também
por não existir
a mulher unânime,
que todos considerassem
‘a mais bela do mundo’.
Que bom que gosto não se discute,
e que mesmo aquela
que alguém acha ‘feinha’
tem, aos olhos de outros,
porte de deusa e jeito de rainha.
O que seria do vermelho
se todos gostassem do bege?
Às que se soubessem “inferiores”
(modo de dizer, todas são especiais)
a esse monumento,
o que restaria?
Suicídio, ou uma vida de morta-viva?
De qualquer modo, triste perspectiva.
Sem falar que, para aqueles homens
que tivessem sido seus amores,
depois do fim do caso
haveria o desespero de saber
que jamais teriam em seus braços
outra que, mesmo remotamente,
lembrasse a anterior.
“Depois que se chega
ao alto da montanha,
tudo o que se pode fazer
é descer”.
Felizmente,
não há mulheres
superiores ou inferiores,
apenas mulheres
– muitas! –
maravilhosamente diferentes!
Graças aos deuses
que elas existem!