E ( ao mundo!)TENHO SIDO...

Um sentimento engasgado,

Qual um peito aprisionado,

Sempre um susto apaziguado.

Tenho sido,

Só mais uma perguntinha,

Duma alma que rumina

As migalhas desnutridas.

Sem respostas merecidas,

Tenho sido a entrevista

Dos que negam a sua vista.

Tenho sido

Conjugação do verbo errado

Particípio do passado

Num gerúndio de descaso.

Tenho sido

O pensamento posto em verso,

A voz mansa dum universo

A buscar o rumo certo.

Tenho sido

Estrela muda... nunca acima

Dum chão triste que declina

Sob um céu de escura sina.

Tenho sido

O espanto prenunciado

Frente ao mundo desalmado

A poesia em céu nublado.

Tenho sido

A mão pronta que se inflama

No mutismo que profana

Toda a escuridão que clama.

Tenho sido

Da vil pedra então lançada

A parede já blindada

Dum cenário que desaba.

Frente ao ato degradante...

Sido verso delirante...

Aliteração constante,

Tenho sido.

Ao pensamento alienado

Tenho sido o verso claro

Um grito decapitado.

Da questão que foi lançada

Ser ou não: poesia intacta!

Sido rima amargurada.

E do ser que é mais preciso

Tenho sido o impossível:

Nunca verso combalido!