AVE PERDIDA, ALMA SOFRIDA.

Um incauto beija-flor invade o templo e se perde.

Enquanto o povo reunido vai ao encontro do seu Senhor e Deus

A desencontrada e assustada avezinha voa sem rumo:

Pousa aqui, pousa ali, detém-se para recuperar o fôlego.

No templo há também alguém perdido, extraviado do caminho.

Enquanto contempla a avezinha que se debate sem encontrar saída,

O penitente também se digladia consigo mesmo, sem rumo, a esmo...

A imagem do Cristo redivivo, velada por um manto roxo, espanta, assusta.

Também o coração do penitente se vela se recolhe ensimesmado,

Busca no Cristo, embora coberto, vedado aos seus olhos, a salvação.

É pecador: doído, roído, já quase sem esperança de libertação, espera

Enquanto a pobre avezinha, como o sofrido penitente se debate.

Está cansada, parece que perdeu a esperança de alcançar a saída.

A liberdade parece distante, inatingível, impossível de se encontrar.

Para o penitente, ainda há uma saída, o caminho ainda não se fechou;

Bifurcações e atalhos o levaram a extraviar-se, é preciso conversão.

Absorto, ainda lutando contra seus fantasmas e pecados, nem sente,

O miserável penitente, que a missa vai começar: o padre já chegou.

O canto melodioso de introdução começa a produzir benefícios,

Assim iluminado, o penitente percebe que a ave encontrou o caminho...

Está livre!

JOSÉ MERCES
Enviado por JOSÉ MERCES em 14/04/2014
Reeditado em 14/04/2014
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