AVE PERDIDA, ALMA SOFRIDA.
Um incauto beija-flor invade o templo e se perde.
Enquanto o povo reunido vai ao encontro do seu Senhor e Deus
A desencontrada e assustada avezinha voa sem rumo:
Pousa aqui, pousa ali, detém-se para recuperar o fôlego.
No templo há também alguém perdido, extraviado do caminho.
Enquanto contempla a avezinha que se debate sem encontrar saída,
O penitente também se digladia consigo mesmo, sem rumo, a esmo...
A imagem do Cristo redivivo, velada por um manto roxo, espanta, assusta.
Também o coração do penitente se vela se recolhe ensimesmado,
Busca no Cristo, embora coberto, vedado aos seus olhos, a salvação.
É pecador: doído, roído, já quase sem esperança de libertação, espera
Enquanto a pobre avezinha, como o sofrido penitente se debate.
Está cansada, parece que perdeu a esperança de alcançar a saída.
A liberdade parece distante, inatingível, impossível de se encontrar.
Para o penitente, ainda há uma saída, o caminho ainda não se fechou;
Bifurcações e atalhos o levaram a extraviar-se, é preciso conversão.
Absorto, ainda lutando contra seus fantasmas e pecados, nem sente,
O miserável penitente, que a missa vai começar: o padre já chegou.
O canto melodioso de introdução começa a produzir benefícios,
Assim iluminado, o penitente percebe que a ave encontrou o caminho...
Está livre!