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* LÁ VAI AQUELE MENINO
QUE A VIDA TUDO NEGOU!
Odir Milanez
 

Maltratado e maltrapilho,
fremindo o frio da fome,
levando o nada no nome,
lá vai das ruas um filho.
O olhar opaco, sem brilho,
sem saber por onde andou,
com passos de quem passou
das decisões do destino,
 lá vai aquele menino
que a vida tudo negou.
 
De ninguém tendo nascido,
nascido sem mais ninguém,
alheio ao tempo que tem,
às horas sem dar sentido,
lá vai um vulto varrido
do chão, que pouco pisou,
como restos que restou
de algum coito clandestino.
Lá vai aquele menino
que a vida tudo negou.
 
Cabelo encarapinhado,
a cara de sol curtida,
a mente há muito sem vida,
sem presente e sem passado,
seguindo a sombra ao seu lado,
desde o dia quando andou.
Qual carta que não chegou,
destinada ao desatino,
lá vai aquele menino
que a vida tudo negou!

Sem jamais ter ido à escola,
parece do mato um bicho.
Almoça em latas de lixo
e janta cheiros de cola.
Para tê-las, pede esmola
ou conta com o que roubou,
trocando com quem trocou
de cara, pra ser cretino.
Lá vai aquele menino
que a vida tudo negou.
 
Lá vai seu vulto vagante,
lá vem outro a ele igual.
Lá vem a faca fatal!
Lá se vai de vida o instante...
Lá vem o vento ululante
sobre o sangue que sobrou.
Num caixão, que alguém doou,
sem choro ou toque de sino,
lá vai, de vez, o menino
que Jesus Cristo chamou!
 
 
JPessoa/PB
29.07.2014
oklima
 
 
* Mote composto pela poeta Rosa Régis, no site "Poesia Pura"



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oklima
Enviado por oklima em 29/07/2014
Código do texto: T4901453
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