Ditadura
Ele tinha uma espécie de toque de Midas
Suas poesias depois que eram lidas
Modificavam destinos e inúmeras vidas
Eram quase palpáveis, praticamente absorvidas.
Suas palavras alcançavam onde ninguém atingia
Atenuavam ou mesmo aplacavam tudo que afligia
De súbito, seus leitores se contagiavam de alegria
Como um pote de ouro que o arco-íris anuncia.
Ele escrevia única e simplesmente por prazer
Para liberar tudo que não conseguia conter
Seus versos eram extensões do âmago do seu ser
Para ele, não existiria vida se não pudesse escrever.
Escrevia a toda hora em qualquer local
Da sua exclusiva forma, acima do bem e do mal
Suas letras se juntavam de forma absolutamente natural
Adorava reticências e evitava colocar um ponto final.
Um dia sua plena liberdade descobriu a censura
Apagaram-se as estrelas e caiu a noite escura
Sua criatividade foi podada e ferida de maneira dura
Agoniza o poeta e sofre a arte na estupidez da ditadura.