MOMENTOS (Florescência) Clarivivência

CLARIVIVÊNCIA

Fila Sabino

Não vim aqui pra dividir

E nem vim para somar

Vim aqui para assumir nessa conta o meu lugar

Vim pra menos, vim pra mais

Vim para equilibrar

No permeio da vivência

Serpenteia a lua cheia

Tão vazia de clarões

Recheada de clarins

Trombetas de anjos em cinza

Ali onde cai a bomba

No encontro de terra e mar

Onde explode a Hiroshima

Saia menina dos olhos

Seja menina criança

Retina retida no seio

Sugado da esperança

Saia dos olhos do Sol

Seja dos olhos do Mar

Tire os mistérios das águas

Salve a Terra de afogar

No fundo de cada brilho

Há um escuro infinito

Clareando o amanhecer

Da mente mais apagada

No entardecer da visão

Um alvejar de ilusão

De(s)crença divinizada

Do Filho que não virá

No dia que não nascer

Na manhã que tanto chove

Molha a tristeza no peito

Do incubado segredo

Arremessado no asfalto

Um brilho um tanto molhado

Leva cegueira à visão

Tateante feito bêbado

Mergulhado na saudade

Ressecado coração

No escuro da noite-meia

Toda noite meia-noite

Na hora da transição

A noite sempre agoniza

Pra poder parir o dia

Nesta dita ‘hora-do-louco’

Todo mundo morre um pouco

Todo mandala teme-e-treme

No ventre uma criança chora

Certamente o sangue freme

Se a visão é deserta

Se o invertido desperta

Todo ser é um poeta

Prenhe de imaginação

Vencido na resistência

Engole toda paciência

Que transborda o coração

Farto de ledos anos

Por engano ou desengano

Sempre nasce uma canção

Na calma d’alma inquieta

Sempre raia um novo dia

Sempre brota uma poesia

No coração do poeta...!!!