O quê somos?

Vinculo-me às necessidades humanas,

Mas estou assaz envergonhado

Perante atitudes que são abjetas...

Em derredor de nós há mistérios

Indissolúveis à nossa precária compreensão

E isso dá à existência um paladar insípido...

Diante da morte somos um nada!

Há um imenso vazio em nossas carências

E o viver é pautado por reticências...

Objetivos são sonhos impalpáveis

Que nos amedrontam a cada amanhecer

E nos fazem naufragar no vale das incertezas...

Em nosso íntimo não há estatutos,

Não somos capazes de desvendar

Os hieróglifos que norteiam nosso ego

E nos achamos dízimos das próprias consciências

Que desconhecem os caracteres intrínsecos

Que fazem moradia em nosso âmago...

É traumatizante tentar entender

O que em nós parece tão cristalino...

A ótica é ofuscada por pernilongos

Que são invisíveis e padrastos

E nos atolam nos lamaçais de um destino

Antiético às aspirações que nos absorvem...

O homem é a mais terrível das incógnitas!

As equações que nos formulam

Apresentam um produto deveras dissociado

Do universo bipolar que nos mantém

Vivos ou mortos numa atmosfera peçonhenta,

Porém concomitantemente bela e aprazível!

Por isso me envergonho... Estou solteiro

Das sensações que constrangem e felicitam

Este paupérrimo cilindro que é a vida!

Entre enigmas e mistérios vamos

Ultrapassando as fronteiras do tempo

Sem a ínfima noção da terapêutica do que somos!

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 14/09/2014
Código do texto: T4961408
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