No calendário, 25 de Março
Debruço-me nas ondas bestiais deste aquário populacional e atormentado. Sigo com os olhos frios e desinteressados os lobos, coiotes, ovelhas negras e percevejos. Andando para lá e para cá, em seus uniformes imaginários e suas espadas partidas ao meio pendidas em suas cinturas. Todos na legitima pressa. Sem estação final ou troféu de vitória. Outros tantos apenas se contentam em nunca, e, ou, jamais possuírem uma medalha de honra ao mérito ou um mini troféu de segunda lugar.
As horas correm loucas e desembestadas. O sol escalda humores, compaixão e pele... Tento drenar o sangue que de meus poros se expelem, escorrendo para esgotos fétidos e solitários da grande e escrotal cidade, poluída e mórbida.
Esvaziam-se os vasos e murcham-se sozinhas e desoladas as plantas; bastões atingem crânios; disparos acidentais ou mal intencionados; surtos psicóticos; cachorros de três patas; choros infantis; comerciais de mais de três minutos; pedidos e clamores pela volta da ditadura militar; lares e favelas; corações sendo deixados em linhas telefônicas!
E, razões mais do que suficientes para afogar-se nas ondas vorazes e depredadoras do gélido interior meu. Entrando cada vez mais fundo,
em ondas que já se formaram, molharam-me e se foram...