UM POETA NA MADRUGADA
 
Numa madrugada de outubro
Sigo por ruas sombrias
À meia luz revela-me um rosto
Mais alguns metros...
E estamos frente a frente
 
Ele se apresenta como Mago-Poeta
E pergunta-me o que é a minha poesia?

E eu fico sem palavras...
Ainda me veio a mente dizer que
 
Ah, eu falo de amor, saudade, tristeza
Mas apenas calei-me...

E ele falou:

Filho, não fale apenas de amores, saudades
Tristezas, alegrias e desilusão
 
Lembra os teus amigos das Letras
Que a vida é dura, difícil e imprevisível

Ainda que tu sejas um poeta do amor

Mas não feche teus olhos
Para as mazelas do mundo
Que sejas dionisíaco  ou apolíneo  

O poeta deve ser o que enxerga além
E tem a capacidade
De trazer para as linhas de seus versos
As dores e as alegrias dessa vida incerta
Ainda que o faça de maneira oculta
Pois nem tudo que escreveres 
Estará ao tempo de tua geração
Mas não te detenhas com isto

Na poesia sejas sempre um servidor
E nunca queira te servir dela

Não toma-te com seguidores
A tua relação com a poesia...
Deverá ser sempre de
subserviência
E não daqueles que buscam a fama
Que buscam cadeiras e títulos 

O Poeta é um príncipe, a Poesia é uma princesa
Seus filhos são os Poemas... E a inispiração?
Ah, inspiração é o elo de tudo

Lembra-te que nem sempre rimas e métricas
São capazes de tocar o coração
Às vezes, com uma única palavra
Você penetra n’alma do teu leitor
 
E quando isso acontecer
Vocês estarão eternamente
Ligados pelo que o homem tem
De mais belo e que o diferencia dos
Outros animais

A linguagem e a razão...
 
Agora volte para casa
Porque antes da alvorada
Invadir o teu quarto
 
Tu vais olhar
Para a tua  escrivaninha
E verás a tua
Poesia concretizada
 
Isso pode até ser um sonho
Mas que bom,
Pois poderá compartilhá-lo
Com os teus.