do princípio (1992)

há uma chuva que pode nascer

de um aborto qualquer -

parto de migalhas profundas

há uma chuva que pode inundar

as antenas da percepção –

sementes prestes a inventar

conflitos de estação

mãos calejadas

remam a esperança

lançam arpões com ânsia de fisgar

novos portos, novos espaços para habitar

há uma chuva em mim

que não sabe cair

afoga-me, assim, repentinamente

morro, sendo ainda semente

sendo parte de uma loucura

que não cabe dentro da gente -

loucura que fere, arromba o peito,

maltratando emoções

que não foram expulsas

pulso em silêncio

chuva não nasce

nuvens pesam na cabeça

águas não invadem

territórios inexplorados

então, morro de sede,

já que a fonte não foi descoberta

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 14/06/2015
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