ESPÍRITO LIVRE

Como pássaro um dia fui,

Livre já me senti,

Minha lei era união,

Minha ordem proteger a nação.

Por isso lutava sem entender,

Porque me amarravam como animal,

Domesticando meu ser feito bicho de estimação.

Minha aldeia o progresso tomou,

Engenho de açúcar teria maior valor?

Expulso a bala a mata me acalmou,

Contei pra iawara o que vi com pavor.

Vestiram meu corpo com a moda da época,

Cobriram minha pele que desenhei e afinal,

Chegaram sem avisar e o genocídio foi fatal.

Castigos severos impuseram os cristãos,

Chamavam-se de amigos e irmãos,

Mas eu vi trazerem meu sangue nas mãos.

Chegou um novo tempo,

Continuo a lutar,

Nem na aldeia tenho paz pra descansar,

Conviver com meu povo na mata que é meu lar.

Dos olhos do "branco" a ganância parece pular,

Querendo nossa madeira a serra derrubar,

Na lei do branco foram nos incriminar.

Da aldeia pra cela o branco me fez chegar,

Será que não entendem que assim vou definhar,

Preso que nem passarinho

Me debatendo com vontade de voar.

Voltar pra aldeia lá sou mais útil pra lutar,

Aqui preso não sei se vou aguentar,

A tristeza desse crime que eu respondo

Pela denúncia que veio de lá.

Madeira de lei sabemos seu valor,

Cuidamos da terra e da mata sem agredir, com amor,

Mas a falta de sensibilidade vinda do opressor,

Me fez dormir na cela pela ordem de um "doutor".

Com meus 70 anos choro teu desamor.

Liberdade para os Assurini! Somos povo de valor.

Márcia Wayna Kambeba
Enviado por Márcia Wayna Kambeba em 23/07/2015
Código do texto: T5321360
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