GUERREIRO CORAÇÃO

Em 1500 eu já estava nesse lugar,

Na aldeia minha terra defendi,

chegavam sem pedir

Dizendo que "intruso" era quem já estava aqui.

Apontei minha flecha para o barão,

Com roupas longas e chapéu na mão,

Armado ele estava e com um tiro atacou a nação.

Jorrando sangue e agonizando no chão,

Tentava o morubixaba num grito final

Pedir ao povo: Fujam! Desse confronto fatal.

Sem arma de fogo e sem saber manusear,

Minha flecha lançada só fazia piorar,

A revolta dos que da aldeia queriam nos expulsar.

As terras habitadas eram ricas e em geral,

Podiam plantar, extrair minérios e prosperar,

Cidades habitadas na dor e no sangue vieram a se formar.

Aprendi que as culturas poderiam se fundir,

Mantendo em meu ser a sabedoria que não roubaram de mim,

Tendo um amor pela mata, e nela encontro sim,

O acalanto, que pela dor nossa alma fez unir.

Hoje, com a aldeia na cidade e a cidade na aldeia,

A maldade do homem, é cobra traiçoeira,

No trato com a natureza sua ganância não é passageira,

Ainda no século XXI sua cobiça é arma certeira,

Pela madeira de lei, que o Cedro nos deu,

Pela fertilidade que carrega o marrom que rege a gaia,

Pelo verde da folha, que esconde o uirapuru,

Pelo canto da saracura, o grito do mutum.

La vem chegando as guaribas assustando o caçador,

Na aldeia o povo sabe que esse é um canto de clamor.

Liberdade para os povos indígenas!

Nossa união vem do cuidado, da vivência e do amor.

Tupã, Nhanderú, Senerú, meu canto pela selva ecoou.

Canto de liberdade, expressa na força do tambor.

Do meu peito sai a luz que ultrapassa a grade da prisão.

Grades da falta de paz, doe em meu velho coração!

Texto: Márcia Marcia Wayna Kambeba

Data: 27/07/2015

Ao povo Assurini.

Márcia Wayna Kambeba
Enviado por Márcia Wayna Kambeba em 27/07/2015
Reeditado em 27/07/2015
Código do texto: T5325243
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