Cântico de Inverno

Cântico de Inverno

No gélido entardecer,

Tudo é sopro quando se olha

Com os olhos de tantos olhos,

E o corpo de tantos corpos

Entre tanta e todas as luzes penetrando as árvores,

E as folhas secas - dispersas, as distâncias

Que à tanto engoliram as memórias, esses olhos

E essa alma sôfrega deste corpo

Que à tanto em outras vai dispersando-se aos ventos...

Em algum lugar nas árvores,

Sofro as distâncias silenciosas

Que esse bosque canta:

Nas pedras turvas, nos cantos íngremes,

Nas estradas curvas e solitárias

De algum lugar extremo onde sopra esses horrores...

O corpo

Esvaí-se com os sonhos -

Lentamente com as memórias, declina

A luz do sol, os ventos gélidos, os versos,

O resto que sobrou... Declinam

Lentamente a poesia,

A medida que procuro

Os cortes, as distâncias

- tão sofridas -

Entre a mente e esses versos...

E tudo o que eu encontro é um:

(...) 'Eu não consigo... Mais... Aguentar...'

(...) Tudo em mim é hemorragia

Cortada pelo escuro dos relógios.

Sobre os dias. Sobre os meses. Sobre os anos:

Sob o céu escuro desse quarto...

Tudo o que tenho são esses versos...

Criados nessa fábrica de sonhos...

À próxima estação. Aproximam-se. -

Os próximos os dias. Os meses. Os anos. -

Esta vida. E está vida que tanto afinca!

E tudo o que tenho é essa loucura!

Esse oco abissal, essa varanda,

Essa insanidade dos meus pensamentos -

Nessa vida que nem isso: esse sopro,

Esse arpejo cantando as memórias

Esvaindo em cânticos mortos! (...)

Tudo o que sopra agora é esse momento

Que tanto sou e não sou sonho de mim mesmo

Emperrado nestes fins: Princípios, que escolhi...

Tudo o que me resta são esses versos, ruindo

A navalha relógios...

E tudo o que tenho são esses próximos...

De tudo, eu poderia ter sido alguém...

Eu poderia ter sido... Principio...

Onde tanto fui princípio desses fins...

Hoje sou só solitário entre os bancos...

Sou só solitário entre as árvores...

Só solitário entre as vias...

Entre os prédios...

Que desconversam estes bosques...

E vão pra onde sou só...

Em todo o resto dos pensamentos...

Tudo se perdeu em um lugar que eu não alcanço...

Tudo se perdeu aonde não existem memórias...

E tanto existe esse fim...

A guilhotina desce o corpo ensanguentado na calçada.

E ainda me da tempo de escrever esses pensamentos.

- Berserker Heart