Nós, menino

E das asas do tempo

nasceu um menino

que sorria com os olhos

beijava com as mãos

dos lábios vertiam palavras

açucaradas banhadas em mel

Tamanho era o bem que fazia

que vieram homens

de preto de branco de longe

estudar o menino

Tiraram-lhe os olhos

deceparam-lhe as mãos

costuram-lhe os lábios

feriram-lhe o coração

Foi-se o menino

ficaram-se os homens

E em dia que o tempo

passava sem pressa

uivaram os ventos

quebraram-se as ondas

fez-se solidão

Por descuido ou ordem divina

no infinito céu da memória

entre grades de prata

guardamos nosso menino

Despercebidamente

ou deliberadamente

deixamos-o escapar

no silêncio de um sorriso

no exato momento

que permitimos nossa alma

a ser, de novo, criança...

Nina Godoy
Enviado por Nina Godoy em 25/11/2015
Código do texto: T5461086
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