UM NATAL SEM OMISSÃO /

UM NATAL SEM OMISSÃO

(Carlos Celso Uchoa Cavalcante=13/dez./2015)

Fantasias do natal

A realidade omissa

O padre reza na missa

E o povo faz festival

Tudo parece normal

Árvores ornamentais

Enquanto pobres mortais

Perambulam pelas ruas,

Crianças, com fome, nuas,

Muitas, até, já sem pais.

O foco é só nos festejos

Mesa repleta, bebida,

Há fartura de comida

Prenunciando sobejos,

Ninguém percebe os ensejos

De praticar caridade,

Dominante vaidade

Se sobrepõe à razão,

Vejo migalhas de pão

Se dissipar na maldade.

No sermão que o padre faz

Amar ao próximo é previsto

Tal como fez Jesus Cristo

E que ao bom cristão apraz,

Quem ama sempre é capaz

De focar o sofrimento

De quem vive no tormento

Na sarjeta, moribundo,

No preconceito do mundo,

De lhe dar amor e alento.

A beleza improvisada

Do foguetório no céu,

Cá na terra o escarcéu

De alegria e risada,

A matéria desalmada

De quem só vê a fartura

Não imagina a tortura

De quem vive a sofrer

Que até mesmo pra morrer

Falta-lhe a sepultura.

Muito dinheiro é gasto

Com enfeite, alegoria,

Da mentirosa alegria

Que abrange um espaço vasto

Enquanto um mundo nefasto

Se afigura em matéria

Incorporando a miséria

Nas madrugadas da vida

Da pessoa esquecida

Que faz da sarjeta artéria.

Acho que Deus não se agrada

Dessa comemoração,

Pois, quem despreza um irmão,

Sua própria fé degrada,

Felicidade comprada

É coisa artificial,

O que nos faz natural

É abraçar o irmão,

Fazer-lhe oferta de um pão

E dizer: “feliz natal”.

(3o. pág. 143)