Solidão

A pia estava quebrada,

O sofá desarrumado.

A placa lá fora,

"Vende-se este de pedaço.."

De solidão.

Pois era tudo um desastre.

As coisas eram tão bagunçadas,

Se eu te contasse, duvido que acreditasse.

O cão latia loucamente,

Para todos que não o queriam escutar.

E havia aquele que dizia que lhe entende,

Que queria sair de lá.

Nem pássaros voavam,

Nem o céu poderíamos admirar.

As nuvens, tão negras, com um ar de arrepiar.

A porta, quebrada,

Ela mais parecia uma canção de ninar:

Pois para todos que a olhavam,

Já iriam desmaiar...

O perfume cheirava forte,

Que não vinha de frasco e nem de pote.

Vinha do bueiro que ficava ali aberto,

Que até os que moravam longe não tinham sorte.

E a pia continuava quebrada,

Sem ninguém para a consertar.

E o porquinho das moedas?

Só os cacos ele quis deixar.

E os mosquitos zuniam,

As baratas conversavam.

Os ratos se divertiam,

Criando uma festa onde entravam.

As moscas participavam de corridas,

Ao redor da antena que passava mal.

A TV ali dizia:

"Com problemas no sinal".

A rua era parada,

Nem pessoas caminhavam ali.

As árvores, sossegadas,

Nem o vento as fazia divertir.

A vizinhança era enorme,

Se aquilo se podia se chamar de gente:

Só uns porcos que rodeavam o cercado,

E alguns mosquitos delinquentes.

E mal tinha cercado,

Somente um muro estranho de arame.

Alguns eram farpados,

Outras que só de olhar, faziam vexame.

A rua nem tinha nome.

Vivia na Cidade da Mata:

Onde a pobreza se esconde,

Sem direção traçada.

E continuava a mesma peça,

Onde a pia estava quebrada,

O sofá desarrumado.

A placa ainda lá fora,

"Vende-se este de pedaço.."

De solidão...

Era o nome daquela região...

Vinicius Salles
Enviado por Vinicius Salles em 05/01/2016
Código do texto: T5501315
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