Águas de Mara

Ah, os fatos, trituram as nossas certezas,

Apagam luzes, derrubam o palco do show;

da farinha das angústias, massa da tristeza,

Deve ser esse, o pão que o diabo amassou...

Mas, se há linimento até de ervas amargas,

Quiçá, há benefícios mesclados à amargura;

Então, que mal trazer a ampola nas ilhargas,

Se, malgrado seu gosto, pode obrar a cura?

Às vezes devaneamos só cortar uma mecha,

Sem percebermos que nosso sonho é calvo;

Ah vida, é mais ou menos como uma flecha,

deve ser puxada pra trás, antes de ferir o alvo...

E, essa sina, ora tão certa, ora, tão errônea,

desenganos espalham no plano suas hordas;

quiçá, seja como certos hebreus na Babilônia,

que no ardor da fornalha queimaram cordas...

Então, que se aqueça à joça sete vezes mais,

Não fugirei, dos tições ardentes, vermelhos;

Nem renunciei o sonho de ser feliz, ademais,

Ao tirano desengano, não dobro meus joelhos...

Moisés achou que sua sina ao lado de Zípora,

Era o tinha pra, então, pastor, pai, varão sério;

Mas, quando Deus sai em busca de têmpera,

Não adianta nada sonharmos com refrigério...