FUGIU-ME O CHÃO DOS PÉS
De repente, fugiu-me o chão dos pés,
Perdi amigos, perdi amores, e o chão
Sumiu, deixou minha alma e coração,
Dilacerados, não abandonei minha fé.
Com o chão perdi as minhas ilusões,
Perdi a noção do tempo, e a lucidez,
Por achar tanta injustiça e malvadez,
Da parte dos homens sem corações.
Senti o chão fugir-me dos meus pés,
Num dia negro em que fui deixado,
À mercê da incerteza do meu futuro,
Valeu-me eu já ser homem maduro.
Maduro como a fruta, tornei-me doce,
Passei a encarar a vida com se fosse
Um recém-nascido pra nova cruzada,
Que encetei, partindo assim do nada.
Amancebei-me com a poesia, amor
De há longa data, sempre discreto,
Que divulguei no momento certo,
Pra cantar a vida com o meu fervor.
Dei ao Mundo, filhos, netos, bisnetos
E poesia, transmitindo o que eu sentia
Da vida intensa que tive, com afectos
E carinho de amigos, como merecia.
Ruy Serrano - 30.01.2016