O ofício do poeta

O ofício do poeta

é mergulhar as mãos no fogo

e nele descobrir as raízes que florescem

como se fossem sol,

dos silêncios de pedra,

como se fossem cósmica semente

no espaço branco por escrever

É descobrir o vazio que espera a voz

rebento e grito da palavra;

é desvendar o instante e o azul,

que a raiz há-de rasgar

o chão

em manhã de nevoeiro,

pedra a pedra

rectilineamente

como o voo rectilíneo da ave

que procura o ninho para crescer

No vazio

esculpirá o poeta, o eco inicial

da palavra,

o grito e o sal

prestes a ser escritura

__________

Alvaro Giesta in Um Arbusto no Olhar (Calçada das Letras, 2014)