CURTIDOR DE PAPOS BANAIS
Sou um curtidor de papos banais,
E não me ligo em qualquer coisa certa demais.
Bebo, fumo, como demais,
E só me alimento de comerciais.
Um cheese salada e um guaraná,
Uma caipira e um vatapá.
Com o uísque, na boate,
Eu tomo doses de enfarte,
Mastigo a morte com tomate.
Essa tal fome, da qual ouço um ti-ti-ti,
E que não deixa muita gente dormir,
Nunca transou comigo e não tô nem aí.
Eu só quero é me divertir.
Muito sorvete pra não esquentar a cuca,
Muito chocolate pra pintar o mundo,
Muito doce, muita festa,
Enquanto os pobres desembestam
Em sua fúria por querer comer.
Eu perco meu tempo com iniquidades,
Consumo veneno, sem necessidade,
Persigo, ingênuo, a publicidade,
Alheio à triste e obscura verdade.
Há muitos famintos, é a realidade;
Que comem as sobras de nossas beldades.
Por que não sentimos o apelo da fraternidade?
A nossa indiferença é a grande calamidade.