Mendignidade

Maria do morro do lixo,

De lixo vive o teu luxo.

Tua fé é o teu sacrifício,

Barulho de fome, eu te escuto.

Tua falta de pão é um suplício.

Migalhas, artigos de luxo.

Maria do morro do lixo,

Esperança não veste luto.

Maria da angústia e da fome,

E é fome disso ou daquilo,

Os ossos que te carcomem

São ossos do teu ofício.

Maria do morro é um estigma.

É falta de fé, de esperança.

Veste teu traste, te sujas

E te limpas com dignidade.

Num neologismo te insurjas,

Sê lá Maria à vontade,

Mas Maria, tu não és musa,

Maria, és "mendignidade".

José Freire Pontes
Enviado por José Freire Pontes em 04/08/2016
Reeditado em 07/05/2018
Código do texto: T5718969
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