As moças gordas e o mundo
As moças gordas se lambuzavam sobre a mesa,
amassavam as cadeiras, corriam à janela,
com olhares gulosos à procura da meia felicidade,
que nunca era completa.
As moças gordas também sonhavam sonhos
esquisitos:
"Eram rainhas enquanto seus maridos eram mosquitos
com roupas de rei".
A verdade é que não tinham maridos, a verdade é que sonhavam
acordadas.
As moças gordas assistiam ao drama da vida e da morte
com sorrisos descarados e pecadores.
Embaixo do guarda-sol, quando o mundo queimava,
elas espiavam as senhoras formosas que dançavam, sobre areia,
Com rapazes magros.
Ah! Rapazes magros! As moças gordas sonhavam com rapazes magros!
Mas tal era a secura da felicidade naquele tempo,
que esses senhores não queriam nada com moças gordas.
As moças gordas então afundavam nas suas cadeiras
e sonhavam com mosquitos.
Um dia, as moças gordas se vingaram da indelicadeza do mundo.
Dançaram sozinhas na areia, diante da beleza infinita do mar.
E os rapazes magros e as senhoras formosas
olhavam, com olhares invejosos,
aquelas moças gordas que eram felizes
sem precisar agradar ao mundo.
“Ah! Esse mundo tão seco e sem carinho...”.