As moças gordas e o mundo

As moças gordas se lambuzavam sobre a mesa,

amassavam as cadeiras, corriam à janela,

com olhares gulosos à procura da meia felicidade,

que nunca era completa.

As moças gordas também sonhavam sonhos

esquisitos:

"Eram rainhas enquanto seus maridos eram mosquitos

com roupas de rei".

A verdade é que não tinham maridos, a verdade é que sonhavam

acordadas.

As moças gordas assistiam ao drama da vida e da morte

com sorrisos descarados e pecadores.

Embaixo do guarda-sol, quando o mundo queimava,

elas espiavam as senhoras formosas que dançavam, sobre areia,

Com rapazes magros.

Ah! Rapazes magros! As moças gordas sonhavam com rapazes magros!

Mas tal era a secura da felicidade naquele tempo,

que esses senhores não queriam nada com moças gordas.

As moças gordas então afundavam nas suas cadeiras

e sonhavam com mosquitos.

Um dia, as moças gordas se vingaram da indelicadeza do mundo.

Dançaram sozinhas na areia, diante da beleza infinita do mar.

E os rapazes magros e as senhoras formosas

olhavam, com olhares invejosos,

aquelas moças gordas que eram felizes

sem precisar agradar ao mundo.

“Ah! Esse mundo tão seco e sem carinho...”.

Renato Lacerda Isquierdo
Enviado por Renato Lacerda Isquierdo em 13/08/2016
Código do texto: T5727207
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