Acompanhante

Num céu todo azul

Eu vejo passar um veloz avião

Sentado num banco de hospital

Viajo acenando com as minhas mãos

Ah se eu pudesse estar voando no céu

Com aquele avião

Mas estou sentado escrevendo sobre a vida

Que bate pulsando em meu coração

O sol ilumina os corredores

A luz se espalha

Nos uniformes brancos

As nuvens parecem também

Nos acalentar

Um dia quem sabe

Assim como o tempo

A gente melhora

E com vontade

Só vemos a hora

De num céu azul

Poder viajar

Ficar dodóí não é bom

Mas sei que logo passa

Assim como o avião que passou

Num vôo azul ligeiro

E vou achar graça

Com o mundo inteiro

Os médicos parecem frios

Como os bisturis

Seus olhos vêem nossas vísceras

Nosso sorriso é um estômago

O meu problema é um risco sirurgico

O meu saber é tão minúsculo

O meu músculo incauto

Meu cérebro é um sapato

Que ele calça e chuta

Mas ele é tão doente quanto eu

Morto das mortes que não aprendeu

Junta nas juntas os cadáveres

E Janta com prateados talheres

Alguns eu sei até que choram

Outros tocam em musicais

Mas tantos são tão brutais

Insípidos e incolores como intestinos

Sábios mestres meninos

Levanto do banco e sigo o paciente

Eu ainda o sigo como acompanhante

Carlinhos Real
Enviado por Carlinhos Real em 21/12/2016
Reeditado em 21/12/2016
Código do texto: T5859309
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