Flagrante de véspera

Havia um Noel desempregado
sentado, na calçada da esquina,
sob uma torpe veste natalina,
com um saco vazio no costado.

Tal imagem doeu-me na retina,
apesar do colírio e do Ray-Ban!
Eu pensei:— que será do amanhã,
quando o chope fluir na serpentina...

Abaixei, palmo a palmo, a cortina,
com fosse um teatro de brinquedo,
e guardei na caixinha este segredo,
e apaguei a imagem da retina.

Amanhã é Natal, acordo cedo,
descortino a janela, apressado...
e não vejo o Noel desempregado,
só um laço amarrado ao meu dedo,

pra lembra que a caixinha tem segredo,
que eu jamais deveria ter guardado.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 24/12/2016
Reeditado em 21/12/2020
Código do texto: T5862063
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.